Setembro é o mês destinado à conscientização da importância da Prevenção do suicídio. Através de iniciativa do CVV (Centro de Valorização da vida), a Campanha Setembro Amarelo está sendo amplamente divulgada. Também envolveram-se nessa luta a Associação Internacional pela prevenção do suicídio (IASP) e várias entidades ligadas à área de saúde, para discutir a possibilidade da prevenção deste tema que é considerado tabu, difícil de ser abordado pela seriedade e complexidade envolvidas.
De acordo com a OMS, o suicídio tem aumentado nas últimas décadas, sobretudo entre os jovens. A cada ano, cerca de um milhão de pessoas comete suicídio no mundo, correspondendo a uma morte a cada 45 segundos. No Brasil, estima-se que 32 pessoas cometem suicídio por dia.
Neury Botega, professor considerado uma das grandes referências no estudo do suicídio no Brasil, aponta que de acordo com vários levantamentos internacionais, em 97% dos casos o suicídio é um marcador de sofrimento psíquico ou de transtorno psiquiátrico, sendo que um pode derivar do outro.
Portanto, oferecer prevenção, diagnóstico e tratamento aos diversos transtornos mentais (depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, dependência química, etc) é uma das maneiras eficazes de lutar pela queda do número de mortes por suicídio. Mas, e quanto ao sofrimento psíquico? É possível, ou até mesmo desejável, evitá-lo? O que temos produzido, enquanto sociedade, que tem contribuído para dados crescentes e alarmantes? Há que se questionar que é no mínimo paradoxal que uma sociedade que valoriza tanto a longevidade e a cura de doenças com intuito de prolongar a vida, conviva com índices crescentes de mortes provocadas e na maioria das vezes, precoce.
Também preocupante saber que em 90% dos casos essas mortes poderiam ter sido evitadas. O tema é complexo e amplo, qualquer tentativa de reduzir a causa a um único fator é negligenciar a profundidade do sofrimento no qual a pessoa que o comete está envolvida. No entanto, lançar um olhar crítico sobre nossa cultura é fundamental para entender os processos humanos.
Diferente dos demais animais, a qualidade de sermos humanos nos faz pensar na morte, idéia essa que nos angustia e, para lidar com isso, buscamos um sentido para a vida…. que caminhos estão sendo propostos, pela nossa cultura, para essa busca de sentido? Embora essa busca seja algo muito singular, o caldo de cultura no qual estamos imersos, é o que nos dá direção. As campanhas de prevenção e conscientização tem explorado a simbologia do laço em sua divulgação, nos remetendo à importância da solidariedade diante do sofrimento do outro. Essa é, na minha opinião, uma questão importantíssima de ser pensada:
Como está, em nossa sociedade, a capacidade de formar e manter laços? Numa sociedade extremamente individualista, competitiva, que prega o culto à felicidade e sucesso o tempo todo, há espaço para que as pessoas se sintam amparadas e incluídas quando se sentem frágeis, fracassadas, infelizes?
Pode ser muito legal conquistar o que se deseja pelos próprios méritos, ir além dos nossos limites, sentir a tão almejada felicidade e ser o orgulho da família. Mas e se isso não acontecer? Ou melhor, se isso não acontecer o tempo todo? A vida não é linear, os fracassos podem fazer parte das conquistas, os limites que cada um de nós se impõe são extremamente individuais, por isso toda competitividade pode ser muito cruel e irreal. Assim, é preciso dar lugar também para a tristeza numa sociedade que supervaloriza e vende o discurso da felicidade em grandes doses. Sim, a tristeza existe, e dela é preciso falar, dela é preciso cuidar, oferecendo continência ao que nos pertence . Muitos escritores, compositores, artistas, transformam suas tristezas e angústias em arte que nos entrete e emociona. Portanto, é possível encontrar um destino bom a sentimentos ruins.
Sofrimento psíquico é da ordem do humano, todos nós, indistintamente, em algum momento da vida iremos vivenciá-lo, quer seja em conseqüência de perdas, frustrações, decepções, fatos que fogem ao nosso controle. Difícil mesmo é a solidão que sente quem se sente triste, numa sociedade que prega que se você não está feliz algo muito inadequado há com você. Pior que a tristeza é a sensação de inadequação por senti-la, a falta de algo ou alguém para acolhê-la.
O crescente aumento no número de suicídios nos serve também como denúncia de que estamos imersos na cultura da solidão. Há um pedido urgente para que fortaleçamos nossos laços, (começando pela família), que encontremos meios de legitimar e acolher o sofrimento, a tristeza, a solidão, para que esses não se transformem em desesperança e desespero, sentimentos típicos e predominantes nas pessoas que pensam em se suicidar.
A sensação de pertencer (à família, a um grupo ) oferece um contorno à existência, uma blindagem natural para nos manter desejantes na busca do que nos dá sentido à vida.
Você Sabia?
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